terça-feira, 16 de março de 2010

Páscoa

Durante todo o ano letivo incorporamos ao currículo as datas comemorativas e, na maioria das vezes, com objetivos vagos e sem fins educativos. Agora é a vez da páscoa. Embora nossa constituição se refira ao Brasil como um país sem religião oficial (Laico), na comemoração cristã católica, alunos de todas as religiões são convidados a ignorar suas crenças para pintarem coelhos e ovinhos de páscoa. Por que nós, educadores, optamos por não respeitarmos as diferenças de crença de nossos alunos? Sou cristã, e embora resistente às datas comemorativas com razões consumistas, a Páscoa não me causa desconforto algum, mas... e as outras crianças? Como se sente o aluno testemunha de Jeová? "Se minha escola é laica, porque tenho que festejar uma festa que considero pagã?". Para o aluno judeu, a data e o simbolismo são diferentes. Neste ano, a páscoa judaica será comemorada em 30 de março, em memória do Êxodo (Saída do povo hebreu do Egito).
Há quem sustente que quem escolhe quais datas comemorar na escola não são os educadores, mas a mídia. Se a mídia fala tanto, então devemos fazer...
Neste ano optei por ouvir os pais. Mandarei um questionário com perguntas sobre qual religião pertencem, qual o significado da páscoa no contexto religioso (porque o comercial todo mundo já sabe), quais as datas importantes para sua religião.
Queria era ver a cara de alguns professores se as datas religiosas das religiões afrodescentendes entrassem para o calendário escolar... Repito, sou cristã, evangélica. Mas não se trata de professar fé, trata-se de exercer nosso papel político e de formadores.
No início dos anos letivos, todos os anos, repetimos que nosso objetivo maior é contribuir na formação de cidadãos crítico-reflexivos. Convenhamos: quem é crítico e reflexivo não se submete ao consumismo de forma passiva. DEVEMOS sair comprando porque o comércio diz que é páscoa? Qual a origem dessa comemoração? Como cada religião comemora? O que é uma sociedade de consumo? Essas questões devem ser discutidas com nossos alunos para que entendam seu papel no mundo. Se entenderem que não precisam consumir para se sentirem iguais , não precisam. E se optarem por comer muito chocolate, que comam. O importante é que pensem, reflitam. Ouvi do psicanalista Paulo Gaudêncio em um programa de TV: "Um paciente me perguntou, irritado, o que eu tinha contra suas convicções. Eu lhe respondi que nada. Só que queria saber se eram SUAS". Quando agimos "no automático", nem paramos para pesar se as convicções são nossas mesmos ou são hábitos que adquirimos de forma passiva e vamos reproduzindo sem refletir sobre eles.
Se seu lado materno de professora grita alto para que dê pelo menos um bombonzinho para suas crianças (afinal, é isso que os filhos esperam de suas mães), antes de entregar, por favor, faça pelo menos uma rodinha de conversa sobre essas questões...

Nenhum comentário:

Postar um comentário